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Mulheres abrem mão da vaidade e cortam os cabelos para doar a pacientes com câncer
O câncer é uma doença que afeta milhares de pessoas no mundo e calcula-se que, nas próximas décadas, será diagnosticada 22 milhões ao ano, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Agência Internacional para a Pesquisa sobre o Câncer.
Além do intenso tratamento que os pacientes precisam passar para curar-se, uma das dificuldades é a perda da vaidade enfrentada principalmente pelas mulheres. Pensando nisso, várias campanhas foram criadas para cortar e doar cabelos à pacientes com câncer e ajudar a melhorar esse período turbulento de suas vidas.
Em Fortaleza, algumas mulheres já abraçaram essa causa e marcaram um encontro com a tesoura. Rachel Campos, estudante de engenharia ambiental, cortou o cabelo em março com as suas duas irmãs, Carinne e Priscilla. As três decidiram doar as madeixas depois que Carinne foi diagnosticada com câncer de mama no final de fevereiro e resolveu que queria doar antes de ficar careca, recebendo o apoio das irmãs. “Ela se emocionou muito e até hoje agradece a gente por isso. Depois, meu pai e o namorado dela também rasparam o cabelo”, conta.
Rachel conta que estava tranquila na hora do corte e não hesitou em participar da campanha. “Incrivelmente, eu percebi: ‘por que não fiz isso antes?’ Sempre corto o cabelo e o via sendo jogado fora de boa, então falei pro cabeleireiro assim: ‘pode tirar um palmo tranquilo’ e ele cortou de uma vez, achei ótimo! Em minha mente, eu só pensava: é por uma boa causa e depois cresce, né?”.
A vontade da estudante de aumentar a campanha foi crescendo quanto mais ela via que existem pessoas dispostas a ajudar. Hoje, ela reúne relatos de várias amigas e conhecidos, até mesmo de outros estados, e pretende conseguir ainda mais doações para o Instituto do Câncer do Ceará (ICC), onde sua irmã faz o tratamento.
A campanha aumenta
Uma de suas amigas, Sara Teixeira, também decidiu cortar os cabelos em março. Ela conta que resolveu cortar para ser solidária à irmã da Raquel. “Pensei que seria uma forma de mostrar que eu também estava com ela nessa luta, ainda mais depois que eu as vi cortando e fazendo essa campanha para doar”, afirma.
Sara relata que não teve medo na hora de passar a tesoura, já que ela fez outras “loucuras” no cabelo. “Na hora que o cabelereiro cortou, deu um susto. Ele perguntou: ‘é pra cortar?’, nem consegui responder e ele já tinha cortado. Mas valeu demais, adorei o corte, senti uma liberdade, vai ser difícil voltar a ter cabelo grande”, conta.
A nova onda de solidariedade não atingiu só o Ceará, mulheres de todo o Brasil resolveram apoiar a causa. Beatriz Linhares, estudante de Natal, no Rio Grande do Norte, cortou o cabelo no estilo “chanel” no final de março. “Pra mim, mulher nenhuma diante da fragilidade deve perder a vaidade. É do feminino essa vaidade, sentir-se bonita e fazer-se bonita. E imagina quem já tá passando por mil e uma coisas, que já sãodesgastantes por demais, às vezes acaba esquecendo-se de se cuidar, ou melhor, perdem o interesse. Merecem o mínimo, mesmo que indiretamente”, explica.
Beatriz ainda gostaria de ter ido além e disse que “queria ser a Rapunzel e dar mais que isso“. Ela também conta que alguns amigos pediram que ela não cortasse o cabelo, pois era muito bonito, enquanto outros admiravam sua coragem e desejavam fazer o mesmo. “Mas não adianta abraçar a causa e depois se arrepender, pra você ser feliz você tem que estar feliz”, conta.

Priscila assim que cortou o cabelo com as irmãs

Sara cortou o cabelo depois de incentivada pelas amigas

Melissa Gurgel

Priscila assim que cortou o cabelo com as irmãs
Conheça essas e outras mulheres que encararam a tesoura:
Cabelegria
O projeto voluntário Cabelegria, criado em dezembro de 2013, leva cabelo e alegria para crianças que passam por tratamento quimioterápico. Idealizado pela designer Mariana Robrahn e pela publicitária Mylene Duarte, em menos de dois meses foi destaque em inúmeros jornais de circulação nacional e blogs.
A ideia foi difundida pelas redes sociais e o primeiro evento, que foi divulgado exclusivamente pela internet, conseguiu mobilizar diversas pessoas. O Cabelegria só ganha mais espaço e hoje, a sua página do Facebook conta com 167 mil curtidas. No ultimo mês de março, foram recebidas mais de 1.300 doações, com uma média diária de 200 caixas de cabelo.
A ação agrega pessoas de todo o Brasil. Para doar, basta querer. Todos os tipos de cabelo são aceitos, mesmo os que possuírem química, e o tamanho mínimo é de 10 cm. Para facilitar o envio, recomenda-se prender o cabelo com uma liga antes de cortá-lo.
Envie as suas madeixas secas dentro de um saco plástico para o endereço: Avenida Parada Pinto, 3420, Bl. 06, Ap. 33 – Vila Nova Cachoeirinha, São Paulo – SP, CEP: 02611-001.
O Cabelegria tem parceria com a cabeleireira Andréia Lopes e cada peruca possui um custo de R$20,00. Todas as doações são direcionadas para o salão e depois de confeccionadas, as perucas são entregues em todos os locais do país. Para receber uma, a pessoa pode entrar em contato com o projeto através do e-mail cabelegria@gmail.com.
Normalmente, uma só doação não é capaz de preencher uma peruca completa. Desta forma, são aguardadas mais doações de cabelos semelhantes para poder completar a cabeleira. Com a participação de fios de várias pessoas, não é possível que o doador saiba para quem foi destinado o produto final.
Eventos
Em todo o Brasil, pessoas participam das doações, seja por conta própria, ou por meio de eventos. Algumas universidades até já realizaram trote solidário com doações de cabelos. Aqui em Fortaleza, quatro blogueiras se juntaram para executar a primeira edição do “Doe cabelo: doe alegria”, feita em parceria com o salão de beleza Aqua Maria, na Cidade 2000, no último dia 12 de abril.
“A idealizadora do evento foi a Sandy Lima, que viu o projeto no Caldeirão do Huck e comentou no nosso grupo do whatsapp. A partir disso, nos juntamos para realizar esse evento”, conta a blogueira Pollyk Torres.
As pessoas que participaram do “Doe cabelo: doe alegria” foram convidadas a cortar os cabelos sem nenhum custo para dá-los ao projeto Cabelegria. Além do novo visual e de saber que crianças com câncer receberiam perucas, as doadoras também ganhavam hidratações.
“A ação superou nossas expectativas, mais de 50 pessoas foram, de diferentes faixas etárias, até o salão e cortaram os cabelos. No final, arrecadamos 80 mechas que serão enviadas para o Cabelegria no fim do mês”, relata a estudante Sandy Lima.
Sandy afirma ainda ter gostado da sensação de ajudar. “É gratificante saber que essas perucas têm um destino certo. Além disso, fico muito feliz das pessoas se voluntariarem, é muito bonito mesmo”, assegura.
A segunda edição do evento já tem data e lugar marcados, ocorrerá no dia 26 de abril, no Salão 2177, que fica próximo ao North Shopping. As organizadoras esperam que mais pessoas compareçam à ação para aumentar o número de doações.
Projeto ICC
O Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac) do Ceará, em parceria com o Instituto do Câncer (ICC), estão idealizando o projeto “Fio-a-fio”, que também disponibilizará perucas para mulheres em processo de quimioterapia.
O Senac pretende colocar em prática um projeto social sobre a conscientização do câncer e dentro dele estará o “Fio-a-fio”. As perucas serão fabricadas por alunos do curso de beleza do Senac para serem doadas ao ICC, onde haverá a distribuição. O projeto ainda não possui data de início estimada, mas as doações de cabelos já podem ser feitas sede do Instituto.
O ICC necessita de outras ajudas, como de fraldas geriátricas, alimentos, voluntários e também dinheiro. Quem quiser auxiliar de alguma forma, pode entrar em contato pelo telefone: 3288-4466.
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Veja o vídeo com a reação de uma criança ao ganhar uma peruca:

